sábado, 3 de agosto de 2013

A Taverna da Coruja Madrugadora (conto)

Dez anos depois, seu tempo de aventuras pelas Terras Centrais do Oriente haviam terminado e finalmente Farris estava retornando para casa. As chamas dos postes acesos em Portal de Baldur faziam a cidade ser vislumbrada mesmo longe, num pequeno brilho crepitante e distante ao oeste. A escura Floresta do Manto já o acompanhava pelo lado sul da estrada, sussurrando através da mata os sons da fauna e flora que abriga, encerrados na floresta antiga.
Mas os pés cansados de Farris Moudvay já denunciavam a necessidade de descanso, seus dedos latejavam dentro da bota desgastada pela longa viagem e a ideia de adiar sua chegada à cidade para a manhã seguinte lhe pareceu conveniente.
Não demorou para que encontrasse um lugar onde poderia repousar: aos pés da estrada,  um pequeno acampamento estava montado, provavelmente erguido por viajantes como ele, que haviam sido apanhados pela noite enquanto viajavam para Portal de Baldur.
Embora o ambiente estivesse tomado por silêncio e quietude, ouvia-se o barulho de alguma atividade vinda da única construção próxima, alguns metros de onde as barracas e tendas foram levantadas. De lá vinha um som baixo de um instrumento musical e algumas poucas vozes. O vento oeste estava frio, vindo do Mar das Espadas, além da cidade. Quando a brisa tocou seu corpo, eriçando sua pele e balançando tendas e estandartes armados, Farris desejou uma bebida quente, algo para aquecer o sangue e os ânimos.
Foi quando entrou pela porta da estalagem, aberta sob uma placa simples de madeira com uma coruja entalhada, percebeu de onde vinha a música tocada por um bardo à beira da lareira. O humano tinha longos cabelos loiros que caíam sobre seu rosto e seus trajes mostravam que era um viajante como tantos outros que passavam por aquelas paragens. O dedilhar do trovador era tomado de calmaria e energia, enquanto a melodia era tirada das cordas do instrumento, sua canção ressoava pelo salão como um abraço melancólico.
Farris observou o restante do lugar. Havia um homem velho, de semblante taciturno, certamente já havia vivido cerca de cinquenta invernos, mas cicatrizes, juntamente com as peças metálicas de uma couraça desgastada que polia mostravam o tipo de experiência que seus cabelos grisalhos reuniram durante a vida. Próximo, dois seres de aparência dracônica conversavam timidamente enquanto sorviam o vinho das canecas que descansavam sobre a mesa. As cores diferentes de suas escamas e os brasões que carregavam em suas vestes sugeriam origem diferentes e possivelmente antecedentes de nobreza ou religião... Talvez ambas.
Todos olhavam para a fogueira, introspectivos e envolvidos pela música que permeava o ambiente. O frio da noite e o silêncio da estrada despertavam inquietantes apreensões, veladas pela canção do bardo.
Nenhum deles deteu sua atenção em Farris. O único que se manifestou foi o taverneiro, oferecendo um assento próximo ao balcão e uma caneca de vinho.
"Benvindo à Taverna da Coruja Madrugadora, senhor. Posso lhe servir um ensopado quente para este noite fria?"
Foi a primeira vez que Farris visitou o lugar. A primeira de tantas que a seguiriam, para encontrar velhos amigos, tomar fôlego para partir ou descansar os pés calejados ao retornar. A Taverna fechava ao amanhecer, mas à noite sempre estava aberta para receber os filhos da aventura.
E o retorno de Farris Moudvay para Portal de Baldur, mesmo após tantos anos distante de casa, acabou revelando mais caminhos para que se afastasse novamente de seu querido lar. 
MIKE WEVANNE
(Inspirado na campanha "Horizontes de Abeir Regresso")
Música "Tristan Theme", do game "Diablo".

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